3 de outubro de 2014

Duopólio Canon/Nikon no Brasil, bom para quem?

   Texto longo, mas precisei contar o início da história toda para que fosse de mais fácil compreensão.   

   Canon e Nikon são as duas marcas que mais vendem câmeras no mundo todo, principalmente a profissionais ou aspirantes a profissionais, e isso é algo incontestável. Até porque a Nikon é uma empresa já quase centenária (fundada em 1917) e a Canon surgiu 20 anos depois, a experiência que estas duas empresas possuem é absurda e como o investimento nesta área é muito alto, fica difícil outras empresas suplantarem essas duas. Mas elas não estão sozinhas, aliás, nunca estiveram. Sempre tiveram sombras lhes acompanhando e a qualidade destas outras concorrentes não ficava muito atrás, mas o mito que envolve Canon e Nikon é fortíssimo. No mundo todo.
As poderosas seguem reinando absolutas sem ninguém incomodá-las
   Quando a fotografia digital começou a se popularizar no final dos anos 90 (graças a Kodak e Sony, muito mais importantes do que Canon e Nikon nesse processo de transição) algumas pessoas imaginaram que uma nova ordem seria estabelecida, mas a concorrência foi minguando e abrindo espaço para as duas grandes reinarem mais uma vez lado a lado, lembrando que este duplo reinado nunca deixou de existir pois nas câmeras SLR de filme elas ainda mandavam e desmandavam. E eis que sobrevivem, além das poderosas, Sony (que adquiriu a Minolta), Olympus e Pentax. Sony e Pentax permanecem até hoje neste segmento: a Sony com um "novo" sistema SLT de espelhos translúcidos (a Canon já havia usado sistema semelhante décadas atrás) e a Pentax ainda nas DSLR (produzindo ótimos modelos de câmera, alguns acima da média) mas com uma patética política de marketing quase se restringindo ao oriente. Tem muito fotógrafo novo por aqui que sequer já ouviu falar em Pentax, mas isso não vem ao caso agora.
A Pentax, famosa por suas reflex multcoloridas, é pouco conhecida aqui no Brasil
   Faltou a Olympus, ela se juntou a Leica e Panasonic em um ambicioso projeto chamado Quatro Terços, ou simplesmente 4/3, do qual a Kodak também já fez parte (e resolveu retornar agora). O sistema 4/3 consistia em uma baioneta comum entre elas e um sensor que media 4/3 de polegada (com fator de corte 2x), daí o nome do sistema. A primeira câmera foi a Olympus E1, ainda uma DSLR, lançada no ano de 2003. Em 2006 a Panasonic fez sua primeira câmera DSLR neste sistema, a Panasonic L1, bem menor do que as DSLR existentes no mercado e aquele era o embrião de um novo sistema de câmeras mirrorless que viriam logo a seguir.
Olympus E1, a primeira reflex a usar sensor 4/3
   No ano de 2008 foi anunciada a Panasonic G1, a primeira câmera sem espelhos do sistema agora rebatizado de Micro 4/3, que possuía o sensor com o mesmo tamanho de antes mas a baioneta estava menor (daí o nome Micro). As câmeras ainda estavam grandes e precisavam de mais desenvolvimento para alcançar o objetivo que era ter câmeras menores e mais leves do que as DSLR, mas com lentes intercambiáveis. Então a Olympus ressuscita sua série PEN anunciando a Olympus PEN E-P1 com um corpo bem diminuto e com o tempo as duas marcas foram criando câmeras cada vez menores perdendo muito pouco em qualidade de imagem para as "poderosas".
Panasonic G1, primeira câmera mirrorless com sensor 4/3
   Só que todo o esforço de Olympus e Panasonic não adiantaria se a Sony não criasse seu próprio sistema mirrorless, o NEX, que começaria a popularizar (de novo ela) este tipo de câmera no mundo todo. Foi aí que os novos fotógrafos começaram a se interessar mais em ter uma câmera quase de bolso com lentes intercambiáveis, isso aconteceu em 2010. Daí para a frente vieram Samsung, Pentax, Nikon, Fuji e Canon, era inevitável, era um novo caminho e era necessário trilhá-lo. Mas Canon e Nikon fizeram sistemas que pouco ou nada acrescentaram: a Canon parece que fez só por fazer, seu sistema EOS-M está limitado a duas câmeras (uma delas lançada apenas na Ásia) e apenas 4 objetivas oficiais de fábrica, enquanto a Nikon produziu um sistema com um sensor muito pequeno (medindo 1 polegada) mas com preços pouco competitivos e um tamanho que poderia ser bem menor já que o sensor é bem pequeno para os padrões mirrorless.
A Sony NEX5, ao lado da NEX3, foi o início do bem-sucedido sistema sem espelhos da Sony
   Como a Pentax fez um sistema bem meia-bomba (a baioneta é a mesma das suas DSLR com lentes grandes e pesadas) e a Samsung nunca conseguiu se acertar, quem arriscou e tem se dado bem é a Fuji. Com seu inovador sensor que dispensa completamente o uso de filtro low pass mantendo uma nitidez acima da média e uma política mais agressiva de marketing, vem se tornando a maior ameaça ao bastante consolidado sistema Micro 4/3 que possui dezenas de câmeras e objetivas no mercado com tecnologia de ponta e qualidade que não deve quase nada a Canon e Nikon. A Sony também se mexeu e criou a primeira mirrorless com sensor full frame que já mostrou resultados espantosos para quem acha que Canon e Nikon estão acima do bem e do mal. O sensor inovador da Fuji também consegue, em algumas situações, conseguir resultados em APS-C semelhante ao das full frame Canon e Nikon.
Diferente arranjo de cores do sensor usado pela Fuji é um dos segredos do seu sucesso
   Qualidade é o que não falta a Olympus, Panasonic, Sony e Fuji para derrubar as duas gigantes da fotografia (procurem por reviews nos seus sites de confiança e vejam o que estou falando). As mirrorless fazem mais sucesso no Oriente mas já são usadas em bom número na Europa e os EUA começam a abrir os olhos para este mercado. Falta o Brasil. E por que falta o Brasil? Porque aqui, mais do que em qualquer outro lugar do mundo, tem-se a imagem de que não existe nada além de Canon e Nikon. Juntemos a isso a enorme dificuldade de se obter equipamentos fotográficos a preços justos e ficamos privados de ter sistemas menores e mais leves, com qualidade suficiente para uso profissional sem maiores problemas.
Uma das câmeras do sistema sem espelhos da Nikon que até hoje não emplacou
   Se os fotógrafos não tem olhos para outros sistemas que não sejam Canon e Nikon, por que os vendedores se interessariam em trazer produtos de outros sistemas para vender aqui se não haveria interesse neles? Então que continuemos neste círculo vicioso: só se fala em Canon e Nikon e só se vende Canon e Nikon. Quem tem facilidade em comprar no exterior tem a oprtunidade de conhecer outros sistemas, quem não tem (como eu) fica preso a Canon e Nikon, mesmo morrendo de vontade de ter um outro sistema em mãos.
A própria Canon é tão descrente do seu sistema mirrorless que a segunda câmera só foi lançada na Ásia
   E termino com a pergunta do título: o duopólio Canon/Nikon é bom para quem? Para os fotógrafos que ficam presos a duas marcas e impedidos de conhecer outros produtos que podem, em alguns casos, ser do mesmo nível ou até melhores que o destas duas? Para os vendedores que com ou sem novas marcas irão vender do mesmo jeito, já que comprador sempre vai ter? Ou para as duas fabricantes que mantém seus reinados intactos aqui no Brasil mesmo oferecendo o porco serviço de assistência técnica em uma única cidade do quinto maior país do mundo? Canon e Nikon agradecem pois sempre terão os seus fieis fanboys a defendê-las...de graça.

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17 comentários:

  1. "Bom" para ninguém, nem mesmo para a Canon e Nikon, que também não podem ser responsabilizadas pela imaturidade do nosso mercado, muito embora não façam questão de dividir o bolo. Se olharmos com atenção, veremos que não é só na fotografia digital que o consumidor brasileiro não tem acesso ao vasto leque de opções que existem em outros países. Os setores automotivos e de transportes, de telefonia celular e até mesmo o alimentício (incrivelmente, mesmo com o Brasil sendo um dos maiores produtores de alimentos do mundo, senão o maior!) são consideravelmente restritos. Não vejo como culpar este ou aquele indivíduo ou instituição por isso. É algo cultural e é consequência de uma série de fatores históricos. O brasileiro sempre esteve alijado de participar efetivamente do comércio internacional na condição de comprador. Fomos induzidos a aceitar a condição de meros fornecedores de matérias-primas que se contentam com um ou outro agrado dos "gringos", e eles sabem que não precisam fazer muito para atender nosso mercado porque sabe que nós, consumidores, não somos exigentes. E, afinal, por que demandar um investimento grande para atender ao Brasil se os brasileiros não se importam em "dar um jeitinho" e trazer o produto de fora?! Enfim, enquanto não soubermos exercer nossa cidadania, pouco restará para a formação de um mercado consumidor consciente. Mercado que, em números, tem um grande potencial, mas que mal e porcamente começa a ganhar corpo aos olhos do mundo. Ou seja, ainda vai demorar um pouco...

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    1. Poxa,fiquei feliz demais com um comentário tão inteligente como esse. Muito obrigado pela sua valiosa contribuição.

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    2. Grato pelo elogio, mestre!
      E aproveito a deixa pra mencionar outro aspecto que não nos favorece: nosso conservadorismo na hora de consumir.
      O brasileiro é muito apegado a certas "tradições", e dentre elas está a fidelidade a determinadas marcas. Canon e Nikon gozam de muita credibilidade entre nós e é extremamente difícil deixar de citá-las como referência, mesmo nos nichos onde não o são (no caso da Nikon, nas compactas, e da Canon, nas mirrorless). Um consumidor comum, que quer uma câmera que lhe atenda satisfatoriamente, sabe que pode encontrar boas opções da Sony, da Panasonic, da Olympus e da Fuji. Mas, o mesmo consumidor que quer comprar "a melhor câmera", exige Canon ou Nikon, e ignora completamente que as outras marcas podem ter câmeras tão boas ou até melhores que as equivalentes da "dupla de ouro". Recomendar uma compacta da Panasonic ou da Fuji em vez de uma Canon ou Nikon, não raro, gera um misto de espanto e incredulidade. Guardadas as devidas proporções, é como dizer a um comprador costumeiro da VW que o Gol não é a melhor opção do mercado... Então, também há o fator comportamento, que é extremamente difícil de ser modificado numa sociedade de mente fechada, como é a brasileira.

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    3. Perfeito, eu mesmo já fui assim e quando resolvi experimentar outra marca fui mal sucedido. Poderia voltar para a marca de confiança, era o caminho mais lógico, mas eu insisti e tentei outra marca e dessa vez deu certo. Reconheço que fui exceção e sigo fazendo a minha parte, mesmo sabendo que é quase impossível mudar esse panorama.

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  2. Olá Rodrigo!
    Eu mesmo só fui conhecer "outras" marcas depois que fui morar fora..
    Aqui pra iniciante era Sony e profissional Nikon e Canon..
    Hoje olho muito mais para as Panasonic e Fuji!!
    Abraço!

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    1. Pois é, só morando no exterior mesmo. Aqui no Brasil fica muito complicado...

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  3. Tentei fazer um comentário agora há pouco e não consegui publicá-lo. Tentarei novamente no final de semana.

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  4. Essa tradição está tão enraizada que, pouco tempo atrás cheguei com minha Panasonic TZ27 numa festa e muitos perguntaram, Panasonic??
    É boa? Funciona?
    Depois da festa mandei as fotos pelo e-mail e uns três me perguntaram, mas foi a mesma máquina que vc levou?
    Nossa, como ficaram boas...!

    Certa vez me perguntaram sobre uma câmera, semi-profissional com megapixels alto, expliquei sobre câmeras amadoras e profissionais (semi-profissional é marketing pra vender), e sobre o sensor,(que é mais importante que os Mp), até aí tudo certo, quando indiquei certo modelo da Fuji e outro da Panasonic, a pessoa fez cara de, esse cara tava indo tão bem...agora borrou tudo...
    Horas depois foi procurar outra pessoa dizendo que eu estava falando asneiras...

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    1. É verdade! Quando eu continuei usando minha compacta com 8 megapixels enquanto já usavam de 14 ou 16 falavam a mesma coisa.

      Bem, é o que eu sempre digo: a informação está ao alcance de todos, basta querer.

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  5. Com a internet bombando de sites com reviews, comparações e etc, penso que um pouco está relacionado à preguiça que alguns tem de pesquisar. Eu fiquei alguns meses na internet pesquisando em sites especializados (bem por isso encontrei esse blog, hehehe) e comprei duas Fuji X-Trans, uma compacta e uma mirrorless. Estou satisfeito, pois fui atrás do que eu esperava em uma câmera. Canon e Nikon ainda vão ser o que muita gente espera também em uma câmera, mas nem mesmo o argumento de Profissional vale mais - nos blogs da Fuji que acompanho, por exemplo, surgem artigos e mais artigos sobre gente trocando DSLR Full-Frame pela X-T1 (Mirrorless APS-C) para trabalhar, e Mirrorless é um mercado que as gigantes aí não parecem dar muita bola. Há tanta câmera boa para as necessidades específicas de cada um que é até um pecado se deixar levar por nome.

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    1. É isso mesmo. Aqui no Brasil as pessoas sequer sabem o que é uma X-T1, e digo profissionais mesmo. Eles, que deveriam ser os mais interessados em saber o que se passa no mercado fotográfico, preferem se fechar no mundinho Canon/Nikon deles e se alguém fala que a X-T1 alcança com um sensor APS-C resultados muito parecidos ao de uma FF vira motivo de chacota entre eles.

      Enfim, realmente tem preguiça e um pouco de falta de vontade também.

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  6. A Fuji X-M1 não grava vídeo com som ?

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  7. Uma outra dúvida: a Nikon D3300 faz foto panorâmica "in camera body", a D5300 e a D7100 também o fazem ?

    Pergunto isto porque não gosto de pós-edição. Nem PS e LR sei usar, só faço pequenos ajustes no Picasa que já é suficiente para as minhas edições básicas.

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  8. Rodrigo!
    Um dos motivos que a dupla reina..
    Em nenhum momento falou do sensor..
    Semi-profissional???

    http://www.americanas.com.br/produto/116966819/camera-digital-semi-profissional-kodak-pixpro-az501-16mp-zoom-optico-50x-cartao-4gb?epar=em_ng_bl_00_091014&opn=EMACOM091014&rmid=OFERTAS%2009-10-2014&rrid=henriquedeleu@gmail.com

    Deixando bem claro, nada contra a Kodak!

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